Por Redação | Atualizado em julho de 2025
O Estado do Pará está liderando uma transformação inédita na pecuária brasileira com a implantação de um sistema de rastreabilidade individual do gado, que promete aliar crescimento econômico e preservação ambiental. A meta é ambiciosa: identificar e monitorar os 26 milhões de cabeças de gado do estado até 2026, tornando a cadeia bovina mais transparente e sustentável.
Lançado durante a COP28 em Dubai, o programa faz parte do Sistema Oficial de Rastreabilidade Bovídea Individual do Pará (SRBIPA) e já está em fase de expansão. Até dezembro de 2025, todo o trânsito de animais deve estar rastreado. No ano seguinte, o governo espera concluir o mapeamento completo do rebanho.
Identificação de ponta e acesso digital
Na prática, cada animal recebe dois brincos — um visual e outro eletrônico com tecnologia RFID — que registram informações como origem, sexo, vacinação e movimentações. Todos os dados são integrados ao Sigeagro, sistema digital que pode ser acessado via celular por produtores rurais.
O programa oferece apoio especial a pequenos pecuaristas: criadores com até 100 cabeças têm direito a brincos gratuitos. Esse grupo representa cerca de 67% da cadeia produtiva estadual.

Ganhos bilionários e novas fronteiras comerciais
Estudo realizado pela consultoria Bain & Company em parceria com a ONG The Nature Conservancy (TNC) estima que a rastreabilidade bovina pode gerar até US$ 1 bilhão por ano à economia paraense nos próximos cinco anos. Entre os principais benefícios estão:
- aumento da produtividade em até 10%;
- valorização do preço da arroba em até 8%;
- redução da informalidade na produção;
- ampliação das exportações para mercados exigentes como Europa e Ásia.
Apoio de gigantes da carne e do setor ambiental
A iniciativa tem apoio financeiro da gigante frigorífica JBS, que investiu R$ 43 milhões no programa, além de recursos do Bezos Earth Fund, que destinou R$ 80 milhões ao projeto. O pecuarista Roque Quagliato, conhecido como o “Rei do Gado”, foi o primeiro grande produtor a adotar voluntariamente a tecnologia, sinalizando uma tendência entre os grandes da cadeia.
Desafios: adesão lenta e regularização ambiental
Apesar do avanço institucional, o ritmo de implementação ainda é lento. Até meados de 2025, apenas cerca de 12 mil animais haviam sido rastreados. Pequenos produtores demonstram resistência, especialmente os que ainda enfrentam passivos ambientais em suas propriedades. Há também desafios técnicos e logísticos na fiscalização e integração dos dados.

Um novo modelo para a Amazônia
A rastreabilidade é vista como uma ferramenta estratégica para combater o desmatamento ilegal vinculado à pecuária — principal vetor de destruição da floresta amazônica. Com o controle digital da origem dos animais, a expectativa é reduzir significativamente a comercialização de gado oriundo de áreas irregulares.
A experiência do Pará pode se tornar um modelo para todo o país, unindo conservação ambiental, aumento de produtividade e acesso a novos mercados.
“É um passo histórico. Rastreabilidade não é só um controle; é uma oportunidade de transformação econômica com responsabilidade ambiental”, destacou Mauro O’de Almeida, secretário estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade.