Por Equipe Fato ou Fake Notícias
No coração da Amazônia Oriental, entre áreas de floresta e campos abertos, uma cena se repete em feiras comunitárias do Pará, Maranhão e Amapá: bancas de produtos agroecológicos dividem espaço com artesanato, alimentos tradicionais e sotaques vindos de diferentes partes do mundo. Migrantes estrangeiros, especialmente vindos do Haiti, da Venezuela e de países africanos, têm encontrado no campo e nas periferias urbanas um caminho de sobrevivência e integração.

Muitos deles se aliaram a assentamentos ligados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), onde o cultivo de alimentos sem agrotóxicos e a valorização da agricultura familiar são princípios básicos. A convivência diária tem gerado um encontro de culturas e saberes que fortalece a sustentabilidade e amplia as possibilidades de produção local.
Troca de experiências
Pesquisadores da região apontam que os migrantes trazem consigo práticas agrícolas de seus países de origem, adaptadas a solos e climas tropicais. Ao se aproximarem de famílias assentadas, aprendem técnicas de manejo amazônico, como o cultivo do açaí, da mandioca e a criação de sistemas agroflorestais. Em contrapartida, compartilham métodos de cultivo de hortaliças e conhecimentos sobre organização comunitária.
Esse processo de troca tem favorecido a formação de novas cooperativas e associações mistas, que reúnem brasileiros e estrangeiros para comercializar a produção em feiras locais e abastecer programas de alimentação escolar. O resultado é a diversificação de produtos e a geração de renda em áreas que historicamente sofrem com a exclusão social.
Agricultura como resistência
A expansão da agroecologia em assentamentos rurais do Pará e do Maranhão é vista como um passo estratégico para o fortalecimento da soberania alimentar. Levantamentos da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e de universidades locais indicam que essas comunidades têm aumentado a produção de alimentos livres de agrotóxicos, preservando áreas de floresta e recuperando solos degradados.

No Amapá, experiências de hortas urbanas em parceria com migrantes mostram que a agricultura sustentável também se consolida em espaços urbanos e periurbanos, aproximando consumidores e produtores. A iniciativa se soma a uma tendência crescente de projetos que unem sustentabilidade, inclusão social e combate à insegurança alimentar.
Barreiras estruturais
Apesar dos avanços, a integração plena enfrenta obstáculos. Migrantes relatam dificuldades em regularizar documentos, acessar linhas de crédito e garantir participação em programas oficiais de apoio à agricultura familiar. Além disso, ainda persistem casos de preconceito e resistência cultural, que dificultam a inserção em determinadas comunidades.
Especialistas defendem que governos estaduais e municipais ampliem o apoio institucional, garantindo formação técnica, assistência em processos de regularização migratória e investimentos em cadeias produtivas sustentáveis. Para eles, a união entre comunidades locais e estrangeiras representa um exemplo prático de como a Amazônia pode oferecer respostas às crises globais de alimentação e clima.
Um futuro coletivo
Nas feiras comunitárias, a presença conjunta de assentados e migrantes demonstra que a sustentabilidade pode ser construída na diversidade. Ao compartilhar técnicas, sementes e histórias, essas comunidades revelam que a Amazônia Oriental não é apenas palco de conflitos agrários ou de pressões ambientais, mas também território fértil para experiências inovadoras de convivência.
A integração entre estrangeiros e movimentos sociais de base rural mostra que é possível enfrentar desafios sociais e ambientais com solidariedade, fortalecendo uma rede que une diferentes povos em torno da produção de alimentos saudáveis, da preservação ambiental e da luta por dignidade.
